quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Na primavera a alimentar a serra!



No princípio de Maio, três semanas depois das primeiras descargas na serra, no auge da urze, apanhei às mãos cheias abelhas a morrer à fome! Tive que as alimentar de emergência na única oportunidade que iriam ter de me encher as alças!


Nas minhas visitas de Junho não trouxe os habituais enxames, nem a primeira alça se enchera, trouxera alguns quadros de mel do ninho, mas nada do que habitualmente em outros anos fazia!
A serra alta este ano teria o pior ano de sempre, vaticinava...

Toalha ao chão?!... Quase!


Toda a desgraça da enxameação  decorreu nos meses de Abril e Maio o que parece ser um grande período para a poder suster,  não fosse tão grande o número de colmeias a intervir e a chuva  e o vento frio uma quase permanente companhia.

O tempo era sempre curto. As minhas operações eram cíclicas e por apiário,  quando me virava para um, tinha os outros no vermelho e o que remediara hoje rapidamente lá chegaria, ao vermelho!
As condições climáticas impedia-me os maneios confortáveis, impedia a preparação de mais colmeias para a serra, e até a própria fecundação de novas mestras e a colheita de néctares da primavera, aumentando os casos de núcleos zanganeiros e a morte de fome de muitos núcleos.  
Diria o povo que andei numa correria tola, em que os objetivos se percebiam mal!



 

A debandada das abelhas.


A chuva, as colmeias cheias de abelhas, a minha ausência...
levaram a uma enxameação sem precedentes...
nunca tal  coisa eu vira!


Até a colmeia mais "varroenta" terá enxameado muitas vezes!... E os enxames reenxamearam!

Quando comecei a preparar as primeiras colmeias para as levar para a serra, percebera que já estava a chegar tarde. Ninhos cheios de criação, colmeias cheias de abelhas, alguns mestreiros aqui e ali... anunciava-se o pior!...

Distribuir alças e substituir 2 ou 3 quadros no ninho, desdobrar, foi muito pouco para fazer face às necessidades! E eu sabia-o, mas faltou-me o melhor, o tempo e o material!

Consequentemente terei permitido  a disseminação de centenas de enxames pelas redondezas, aumentando o meu efetivo de colónias e perdido toda a colheita de mel, esperando ter o pior ano de todos em produção de mel!



domingo, 21 de agosto de 2016

O luto à serra

Na quarta feira 10 de Agosto, ao final da tarde, depois de confirmar com o CODIS que a estrada estava aberta, terminado o trabalho, foi fazer o meu luto a Arouca...

Fiz a viagem sozinho, lá em casa estavam todos de férias, mas não podia deixar de ir ver o que restara do incêndio do dia ou da ultima noite...
Foi o meu velório à serra, a tudo o que ali se perdeu e às minhas colmeias... Na viagem imaginava que nem tudo teria ardido, nem os campos nem as margens do rio, nem todas as colmeias, como que acreditando que o milagre era possível... para acalmar a minha ansiedade.


Foi um viagem ao inferno. Três grandes fontes de fumo abraçavam os céus de Arouca, alimentadas por diferentes frentes de incêndio com dezenas de kms, aqui e ali com as chamas a lamber as casas de alguns povoados.



Quando cheguei a Ponte de Telhe, já o incêndio abraçava a povoação e ameaçava as casas que os bombeiros a todo o custo se esforçavam por defender. Parei junto à ponte onde me cruzei com dois carros de bombeiros a abastecer e um grupo de populares conferenciavam com os bombeiros exaustos, (eram de Estremoz e alto Alentejo). Do grupo, irrompeu uma mulher que se assomou à janela do meu carro quase parado e disse: as suas abelhas foram todas, ficou tudo queimado, reforçou...


Estava comunicada a desgraça, feita a confirmação da notícia, partilhada a perda!
Todos ali tínhamos perdido alguma coisa ou quase tudo...


Perguntei-lhe se a estrada estava livre e se poderia lá ir, disse não saber e perdia na sua aflição com que atropelava os bombeiros num interrogatório sem fim...



A ponte é o ponto mais baixo do povoado... por todo o lado eram caminhos de fogo e chamas que subiam ou desciam o monte... subi um pouco mais, convicto de que alcançaria o Carvoeiro, parei para observar o que já ardera e o que estava a arder e avaliar o perigo em segurança. De olhar em Ponte de Telhe, na encosta de nascente o esforço centrava-se em salvar as casas, entre projeções de fogo monte abaixo... Ouviam-se gritos a cada acendimento, movendo os esforços e os meios de combate.



Prossegui até ao apiário, rodeado de chamas que ameaçavam o carro.  Chegado lá acima, confirmei, a quinta estava quase toda queimada, escapara a horta e o casario, ardera menos que há onze anos, da vez em que nem as casas escaparam.  Pelos poucos pontos de chama visível e quase ausência de fumo conclui que já ardera na noite anterior, podia ir lá abaixo sem riscos, o chão já estava morno...



Desci onde ainda ninguém depois do incêndio lá tinha descido. Era o primeiro a pisar a cinza fofa.
Os caminhos e o estradão onde estavam as colmeias, eram agora um percurso de cor bege, aparentemente sem pedras, quase branco, demarcando o negro da floresta. No poiso, mantendo o alinhamento sobraram as tampas que ainda  fumegavam. Tirei fotos e gravei um filme à medida que fazia o estradão. Parei!...
Resistira uma colmeia com duas alças, donde saíam e entravam abelhas em operações de limpeza.
Toda ela era um carvão! Era o milagre!...Não quis acreditar.


Apressei-me a apanhar as tampas e chapinhas que restaram, algumas ainda escaldavam! Fechei a colmeia, agarrei-me a ela com os dentes serrados e... já está, tudo dentro da carrinha. Fugi, já noite daquele buraco de cinza escura rodeado de fogo por todos os lados, com uma imensa tristeza.
Fez-se o luto!


Portugal a arder...

Faz amanhã e depois e nos dias a seguir, duas semanas em que o país se deixou imolar pelas chamas, em especial no distrito de Aveiro... Um dia talvez registe aqui com rigor alguns números que retratem a perda catastrófica que este território sentiu. Só em Arouca foi mais de 60% da área florestal!!!


Hoje,  interrompendo o meu plano de escrita, para que amanhã não esqueça, quero só apontar que à minha conta foram 60 colmeias. Vinte no concelho de Ovar e quarenta em Arouca, respetivamente nos dias 8 e 9 de Agosto de 2016!


Em Ovar ainda as vi a arder, ficaram metade, depois de um rescaldo inexistente dum primeiro fogo... coisa de miudos!
Em Arouca com os  poucos bombeiros ainda aguentamos as chamas acima da estrada até que ao meter-se da noite o vento virou e devastou tudo... disseram!


A serra como eu a conhecia... desaparecera defintivamente para os próximos anos!
Até me esqueço que com ela foram as minhas colmeias.



sábado, 30 de julho de 2016

A doença e a morte.


Pela Páscoa  tive um susto!
Um pêlo encravado no pescoço que me atirou para a cama e posteriormente para uma micro cirurgia, com n tratamentos, tirou-me a disponibilidade necessária numa época crucial para acompanhar as abelhas!

Foram talvez três semanas em que não pude desbobrar, dividir, produzir raínhas, substituir ceras, impedir a enxameação, com prejuízos muito significativos nos apiários.

A minha doença, por mais insignificante que seja, será a prova para o futuro do início da morte da minha apicultura. 
Terei que  modelar a minha apicultura à minha idade para que um dia não sejam elas vítimas da minha ausência.

Talvez o ano mais chuvoso.


Em Janeiro começou a chover quase ininterruptamente...
e só parou em Junho!
Talvez o ano mais chuvoso.
A partir de Janeiro pelo Litoral, não se colheu mais eucalipto.
Cheguei depois a ter esperança na urze, com o aumento de temperatura e disponibilidade de água no solo, mas em Maio também faltou o sol.

Foi um ano cheio de desvios que me impediram de acompanhar todas as oportunidades mas foram poucas as oportunidades para fazer umas horas a fio nos apiários.
Chuva frio e nuvens de abelhas iradas à nossa volta.

Enquanto isto as colmeias encheram-se de abelhas  ou de bolores e as duas coisas...
As reservas consumiram-se nos três primeiros meses e as colmeias entraram generalizadamente em risco de enxameação!

O excesso de humidade, mesmo com muito espaço e até sem reservas, é condição suficiente para despoletar o processo de enxameação! Estavamos no início de Abril próximo de uma verdadeira catástrofe, comentei repetidamente com o pai a quem dei instruções para dividir tudo o que pudesse...