Numa Apicultura "Intensiva"

Uma vida intensa!...

Tem sido assim nas últimas semanas... muita intensidade aos finais de tarde e ao fim de semana para dar resposta à solicitação das colmeias em plena época de colheita... Não o fazendo perde-se a produção e às vezes muitas abelhas!...

Com as minhas limitações de tempo para tanta colmeia, sem poder ter grandes maneios ao fim de semana pelo mau tempo e pela falta de material, tenho perdido um pouco de cada e resigno-me à força da natureza!...

A produtividade de um colmeal é directamente proporcional à intensidade da resposta do apicultor no ajustamento dos maneios à necessidade das colmeias e no controle da enxameação, bem sei... mas à rapidez com que tudo se sucede... não sou capaz de dar resposta e interiormente não consigo ficar confortável!...

O melhor cão de guarda

que tenho nas traseiras da casa!

O meu amigo Zé diz frequentemente a propósito de meia dúzia de colmeias que instalei nos fundos do seu quintal: "é o meu melhor cão de guarda que tenho nas traseiras da casa! Ninguém lá entra!..."

Confesso que assim pensava acerca da capacidade de guarda dos meus apiários, até há cerca de um mês, quando ao início da tarde cheguei ao Cabedo e me deparei com uma multidão de gente adulta a escassas dezenas de metros das colmeias, a ripar feno entre os matos, com os ancinhos,  a apanhar picadas de morte!...

Depois dos pedidos de desculpa e de passadas as devidas autorizações,  acabei a berrar-lhes... não por me estarem a levar o feno, mas por estarem a submeter-se aquele sofrimento ao trabalhar aquela hora da tarde!...

O comportamento das abelhas

Em época de colheita

Nesta altura do ano as abelhas fascinam-me pelo processo explosivo que transforma colmeias e apiário!

Só lhes falta mesmo serem meigas e afáveis... como as italianas que aparecem naqueles vídeos em que os apicultores em regra têm mangas arregaçadas e calção colonial!...

Não sou muito rigoroso nas minhas observações e nunca estabeleci nenhuma correlação forte entre os tipos de abelhas que possuo e a sua agressividade e tenho a persepção genérica que algumas colmeias são mais ariscas que outras... para não dizer terríveis!... 

No entanto, nesta época do ano, de colheita, desde as mais pequenas às maiores, passando pelas mais amareladas às mais peludas, todas elas são uns terrores... 

Irritame vê-las perseguir as minhas mãos quando entro nos apiários com elas desprotegidas, tenho que me socorrer das luvas que uso para lhes mexer:  finas de borracha usadas em limpezas diversas, das mais baratas e bem ajustadas, para que a sensibilidade seja máxima... As pontas dos dedos das luvas são cortadas para que as mãos possam respirar minimamente... e quase nunca tentam picar embora de quando em vez entrem  pelos buracos das pontas dos dedos...

Preocupa-me que alguém possa vir a reclamar do mau comportamento das minhas abelhas ao aproximar-se dos apiários, seja por curiosidade ou necessidade de passagem próxima!...

Colheita Gorda

Em dia de domingo gordo!

A manhã acordou morna e húmida, o ideal para um excelente dia de colheita e para umas visitas a algumas das colmeias para avaliar o seu estado febril.

Passando por Enxemil e Sargaçal, deixei-me arrastar até Cabedelo onde tenho as colmeias mais explosivas. Estava sózinho e ainda dorido do dia de sexta-feira, mas do arrastar-me ao cravar-me nelas, é uma diferença de minutos...

O movimento das abelhas á minha volta, uma colmeia aberta, desenvolve uma adrenalina que não  me deixa parar facilmente. Ajustando a distribuição das últimas alças distribuídas pelo pai, aqui e ali indo mais longe, avaliando o estado da criação e catando mestreiros...

Não encontrei muitas colmeias com mestreiros o que me foi tranquilizando e o movimento de colheita estava fabuloso sobretudo com polén de salgueiro e néctares de eucalipto até que, já próximo do almoço,  me surpreendi com a saída de um pequeno enxame duma colmeia que não denunciava grande perigo... lá tive que o recolher antes do cozido à portuguesa que neste dia a mãe faz.

À tarde trouxe o pai e uma carga de alças, para prosseguirmos no arrefecimento de algumas colmeias...  desdobrando também aqui e ali, aproveitando a disponibilidade de mestreiros, e  na fiscalização do estado das colmeias, até chover intensamente...

Aparências e realidades

dum ano incerto!...

Esta semana foi de sol quente e sêco, com algum vento e noites frias... A colheita foi por isso fraca.

No Sargaçal e no Cabedelo, as alças acrescentadas, quer as que deram o mel quer as de cera nova, poucas alterações registaram...

Na Mata, os machos continuam a ser perseguidos e mortos em quantidade apreciavel e em algumas colmeias aparentam estar a comer o mel colhido, como que a adivinhar  o termo da campanha!...

A Mata continua a surpreender-me pelo excepcional decréscimo da população por colmeia, aparentando terem passado um inverno profundo, ou sofrido ataque generalizado por virose, ou despovoamento generalizado, ou um outro sindrome provocado por causa não identificada. 

Ontem decidi levantar material, alças de mel, nas colmeias onde o decréscimo é mais notado e foi mais uma maratona de doze horas sem parar!...

Fiz também um juramento de acompanhar quase diariamente este apiário que afinal fica somente a dois quilómetros de casa, para o melhor poder compreender o que ali aconteceu!...

Como diz o Povo

Já aconteceu ou está para acontecer...

Do dia pra noite de todo o lado procuram-se colmeias para venda, em quantidades que, pese o meu modesto conhecimento, penso ser muito superior ao que o mercado estava capacitado para disponibilizar, pelo menos aqui na região... Fazem referência a projectos de norte a sul, discute-se o preço para rentabilizar o investimento nos primeiros três meses, como se tivessem descoberto o tesouro!...

Será esta uma resposta de empreendedorismo da sociedade como reacção à crise em que o regime nos mergulhou, terá chegado a hora de desenvolvimento  da apicultura ou é mais uma corrida a financiamentos de oportunidade de projectos insustentáveis?!...

É uma pena se nos estamos uma vez mais a enganar!...

Já lá vão tantas gerações em que persistimos em nos deixar enganar!...